Um novo estudo acende o sinal de alerta sobre a segurança alimentar no Brasil: a presença da bactéria Listeria monocytogenes em alimentos de origem animal foi confirmada em níveis preocupantes, especialmente em produtos como frangos, queijos e embutidos. Essa bactéria é responsável pela listeriose, uma infecção que pode causar complicações severas, principalmente em grupos vulneráveis.
Frango processado apresenta maior contaminação por Listeria monocytogenes
A pesquisa, divulgada pela revista Ciência Rural, avaliou 248 amostras de carnes, laticínios e equipamentos industriais em sete estados brasileiros. O resultado? A Listeria monocytogenes apareceu em 7,3% dos alimentos analisados, mas em 84% das amostras de carne de frango mecanicamente separada, usada em larga escala na fabricação de alimentos ultraprocessados.
Essa taxa é alarmante e exige atenção tanto de consumidores quanto de órgãos reguladores. A bactéria é conhecida por sobreviver em ambientes refrigerados e por resistir a processos industriais, o que aumenta o risco de contaminação mesmo em produtos aparentemente seguros.
Como a pesquisa foi conduzida
A investigação foi realizada por especialistas da Universidade Federal de Goiás (UFG), Unicamp e a Secretaria de Meio Ambiente de Ceres (GO). Os cientistas combinaram duas tecnologias avançadas para identificar a bactéria: o Real-Time PCR, que detecta o DNA da Listeria, e o sistema automatizado VIDAS LMO 2, usado para análises imunológicas em alimentos.
Apesar da alta presença da bactéria nos alimentos, não houve detecção em equipamentos industriais, como seladoras, tanques e prensas. Esse dado contrasta com estudos internacionais, onde utensílios de produção também aparecem como fontes de contaminação.
Listeriose: doença grave e silenciosa
Embora rara, a listeriose é uma doença perigosa, especialmente para gestantes, recém-nascidos, idosos e pessoas com baixa imunidade. Nos EUA, são registrados cerca de 1.600 casos por ano, com mais de 260 mortes. No Brasil, a realidade é mais incerta, pois a doença é subnotificada e pouco diagnosticada, sem registros oficiais do Ministério da Saúde.
Necessidade de ampliar a legislação sanitária
Atualmente, a legislação brasileira controla a presença da Listeria apenas em produtos prontos para o consumo. Segundo o pesquisador Daniel Lucino, da Unicamp, o estudo evidencia a necessidade urgente de revisar e ampliar os padrões microbiológicos, incluindo também os alimentos processados, como os embutidos.
Outro artigo do grupo está prestes a ser publicado e investiga a distribuição da bactéria em matadouros e frigoríficos de bovinos, fortalecendo o embasamento para futuras políticas públicas na área de vigilância sanitária.
Conclusão: consumidores e autoridades devem estar atentos
A descoberta da Listeria monocytogenes em alimentos de origem animal reforça a importância de práticas rigorosas de higiene na indústria, fiscalização contínua e conscientização do consumidor sobre os riscos. Além disso, destaca a necessidade de políticas públicas mais amplas e baseadas em dados concretos para garantir a saúde da população.
Este artigo foi publicado originalmente pela Agência Bori.
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