Como surgiu o ketchup (sem tomate!)
A história do ketchup começa muito antes de ele se tornar o companheiro inseparável das batatas fritas. Curiosamente, o ketchup nem sempre foi feito de tomate – e nem nasceu na América.
Por volta de 300 a.C., na região do atual Vietnã, surgiu um molho fermentado à base de peixe e soja chamado kê-tsiap. O nome, de origem chinesa, significa algo como “salmoura de peixe conservado”. A mistura caiu no gosto popular e logo se espalhou por outros cantos da Ásia.
No século 18, os britânicos, encantados com o sabor do kê-tsiap, decidiram levá-lo à Europa. Como não havia soja na Inglaterra, surgiram variações com ingredientes locais como cogumelos, nozes, anchovas e até ostras. Era o nascimento da primeira geração do ketchup ocidental.
A chegada do tomate
Embora nativo da América do Sul, o tomate demorou para conquistar espaço nas cozinhas europeias. Durante muito tempo, acreditava-se que ele era venenoso. Só no século 19 ele passou a ser usado em larga escala, especialmente na Itália.
A industrialização do tomate ganhou força com o italiano Francesco Cirio, que fundou a primeira fábrica de conservas de tomate em 1856. Seu sucesso abriu caminho para a expansão do produto mundo afora – e, claro, para o surgimento do ketchup moderno.
Quando o ketchup virou ketchup de verdade
A primeira receita de ketchup de tomate surgiu nos EUA, em 1812, pelas mãos do cientista James Mease. Mas o molho ainda tinha um problema: estragava rápido. Para resolver isso, os produtores abusaram de conservantes tóxicos como alcatrão de hulha e benzoato de sódio.
Foi aí que entrou em cena Henry John Heinz. Em 1876, ele lançou uma receita feita com tomates maduros e vinagre em alta concentração, dispensando aditivos perigosos. O novo ketchup era mais seguro, saboroso e durável.
Heinz também se destacou pelo marketing agressivo. Em 1924, organizou banquetes simultâneos em quatro países, coordenados por rádio e alto-falantes. O ketchup virou símbolo da cultura americana – tão icônico quanto a Coca-Cola.
A revolução das fábricas e das conservas
Muito antes da linha de montagem de Henry Ford, a Heinz já usava processos industriais para fabricar ketchup em larga escala. Em 1903, a invenção de uma máquina para produção de frascos de vidro reduziu drasticamente os custos. Em poucos anos, a empresa vendia milhões de unidades ao redor do mundo.
Além disso, a Heinz fez alianças com o governo americano, apoiando leis de segurança alimentar e fornecendo mantimentos durante guerras. Sua influência ajudou até na criação do FDA, o órgão regulador de alimentos dos EUA.
O império do tomate industrial
Hoje, o ketchup é produzido principalmente com uma variedade específica de tomate, conhecido como “tomate industrial”. Ele tem casca firme, pouca água e crescimento controlado – ideal para o processamento em grandes volumes.
A China é a principal exportadora desse tomate. Com condições de trabalho precárias, milhões de trabalhadores colhem toneladas de frutos para abastecer o mercado global. A produção se concentra no oeste do país, enquanto o leste concentra as grandes cidades e indústrias.
Na Itália, um detalhe legal permite que produtos com base chinesa sejam rotulados como “Made in Italy”, gerando controvérsias e alimentando o que se chama de “agromáfia”.
O ketchup como fenômeno cultural
Mais do que um simples molho, o ketchup virou fenômeno mundial. No Brasil, é presença garantida no estrogonofe. Em países como Polônia e Líbano, vai até na pizza. E no Canadá, existe até o inusitado “ketchup cake” – um bolo feito com o condimento.
Segundo o historiador Ken Albala, o ketchup é um dos melhores exemplos da globalização alimentar. Criado na Ásia, transformado na Europa e reinventado nos Estados Unidos, ele carrega a marca de diversas culturas ao longo dos séculos.
Conclusão
A história do ketchup revela mais do que a origem de um condimento. Ela mostra como ingredientes, técnicas e culturas viajaram o mundo, se reinventaram e conquistaram paladares. Hoje, o ketchup é símbolo de inovação, marketing e, claro, sabor.
Fonte: Super
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